Por Paloma Oliveira e Thaísa Araújo | 07 de junho de 2021
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Na sociedade pós-moderna, valer-se de um ensino tradicional pode significar não acompanhar o desenvolvimento exponencial da sociedade, da ciência, da tecnologia e dos próprios indivíduos. Em uma educação contemporânea, é preciso efetivar um olhar multifacetado e contextualizado para mediar os sujeitos no processo de ensino-aprendizagem, considerando as múltiplas formas de aprendizagem de cada um dos estudantes. Nesse sentido, é inevitável considerarmos os seus conhecimentos prévios para a aquisição de novos saberes, e é fundamental que nós, professores e tutores, agucemos nosso olhar para a diversidade desses atores. Afinal, a heterogeneidade da sala de aula exige uma mediação pedagógica mais dinâmica e apurada, gratificadas por um ambiente com partilhas mais diversas e prósperas.
Na construção do fazer educativo contemporâneo, ressaltamos nosso principal objetivo como mediadores da aprendizagem: a ampliação das possibilidades de leitura do mundo mediante a experimentação, a reflexão e a problematização de diferentes contextos. Isso capacita nossos estudantes para o enfrentamento dos desafios da vida adulta por meio do desenvolvimento de diferentes competências, ou seja, conhecimentos, atitudes e habilidades – cognitivas e socioemocionais –. Sob esse prisma, consolida-se a formação de seres autônomos, críticos e conscientes da importância de um mundo mais sustentável. A partir da imersão dos alunos em diferentes experiências educativas e em debates que contemplem conhecimentos de diferentes esferas socioculturais, é possível abrir espaço para que novas perspectivas sejam construídas, além de estimular a curiosidade pelo novo, promovendo um aprendizado desejado por eles.
A partir desses princípios, nas aulas de História do 8º ano do Ensino Fundamental, a aposta tem sido na construção de histórias plurais. Toda provocação começou no início do ano letivo, com a discussão feita pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie sobre os perigos de uma história única. História é feita de memórias e esquecimentos, certo? E, talvez, nós tenhamos nos esquecido das várias Áfricas que compuseram o Brasil, dos negros e negras que, com suas trajetórias e vidas, formaram e formam a nossa sociedade, entre outros importantes elementos socioculturais. Nesse contexto, alguns questionamentos precisam ser levantados: quais histórias são frequentemente reproduzidas por meio de um único olhar? Quais outras memórias não são co-memoradas? Quais personagens da História foram silenciadas e invisibilizadas?
Na urgência de se construir uma história plural e não narrativas únicas sobre o nosso passado, a professora Thaísa Araújo convidou a antropóloga Helena Assunção para compartilhar um pouquinho de sua vivência em Moçambique a partir do olhar das capulanas, "tecidos estampados africanos" muito utilizados pelas "mulheres africanas" amarrados à cintura, com os bebês amarrados nas costas, etc. No entanto, para além de um tecido, as capulanas são como bibliotecas, guardando inúmeras memórias e histórias. Na Ilha de Moçambique, as mulheres são consideradas "as donas das capulanas" – elas guardam os tecidos de gerações das famílias como tesouros – sempre herdados na linha materna. O encontro possibilitou a ampliação do olhar sobre as culturas africanas e um vislumbre acerca das várias Áfricas que existem desde antes da escravidão atlântica. Apostar em uma educação que amplifique nossos olhares sobre o mundo e sobre o universo da possibilidade é ir ao encontro da problematização, da reflexão e da experimentação, fatores tão importantes para uma aprendizagem sólida, integrada e ativa.
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Por outro lado, após evidenciarmos um pouco da nossa visão sobre a educação contemporânea e sobre sua pertinência para o ensino efetivo, não podemos deixar de ressaltar alguns desafios. Primeiramente, é necessário reconhecer os desafios da promoção de algumas experiências pedagógicas no ensino híbrido, considerando que o uso de recursos tecnológicos no ensino exige novos aprendizados não só dos estudantes e dos professores, mas também dos pais, que lhes darão suporte nesse processo. Além disso, acreditamos que as metodologias ativas de aprendizagem, tais como sala de aula invertida, gamificação e aprendizagem baseada em projetos, sejam o caminho para a consolidação de uma educação contemporânea, robusta e qualificada. Nesse sentido, um desafio dessas metodologias é mudar a mentalidade de indivíduos que foram instruídos como aprendizes passivos, os quais, por meio delas, transformam-se, agora, em protagonistas dos próprios aprendizados. O que isso significa? Precisamos entender, enquanto comunidade escolar – escola, pais e alunos –, que o trabalho feito por cada disciplina passa por inovações e aperfeiçoamentos, cujas adaptações podem ser vistas com certa resistência, já que exigem muito mais autonomia no processo.
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Em suma, na sociedade em que vivemos hoje, com fragilidades estruturais, além de cenários imediatistas e indefinidos no que diz respeito às relações pessoais e globais, discutir sobre um novo fazer educativo é acreditar na potência de nossos jovens, os quais são responsáveis pela manutenção de um mundo mais orgânico e integrado. Diante disso, apostar na educação contemporânea significa imprimir uma visão pedagógica que visa à criticidade e à proatividade dos nossos estudantes, o que promoverá mais conhecimento, resiliência e flexibilidade para lidarem melhor com as necessidades e os interesses pessoais e coletivos a partir de uma postura problematizadora e reflexiva. Vale pontuar também que os tempos têm mudado e que nós estamos cada vez mais conectados, não apenas à tecnologia, sob o olhar do senso comum, mas conectados a diferentes experiências e conhecimentos. Esse fato reforça a urgência de criarmos, na escola, ambientes que possibilitem uma análise transdisciplinar dos mais variados fenômenos científicos, linguísticos e sociais que perpassam nossa educação. Por fim, para que tudo isso seja alcançado, cabe a nós, professores, um constante esforço voltado à avaliação processual dos estudantes durante toda a sua trajetória em um ano letivo. Desse modo, é de suma importância que o ato de aprendizagem seja pautado na metacognição, ou seja, que eles tenham consciência daquilo que aprendem e de seus avanços a partir de feedbacks recorrentes e consistentes dados pelos docentes.
Gostou de entender melhor sobre a educação contemporânea na escola: perspectivas e desafios para os educadores e a comunidade escolar? Então aproveite para entender melhor sobre a escola para uma adolescência plural.